quarta-feira, 25 de junho de 2014

Disputa de pênaltis: leva vantagem quem começa batendo



Esse blog está meio devagar, claramente por causa da Copa. O evento tem afetado tanto o lado da demanda (o número de acessos diários é cerca da metade do usual), dado que as pessoas estão mais interessadas em futebol do que em Economia; como o lado da oferta, dado que os autores estão mais interessados em assistir aos jogos do que em escrever. Confesso que nem li direito os posts recentes dos meus colegas. E o fim do semestre também afeta o lado da oferta, por conta do pico de trabalho associado à correção de provas (somos majoritariamente professores universitários).

Vou aproveitar a Copa para abordar assuntos que misturem futebol e economia (e em vários momentos só futebol). Agora vai ficar mais fácil, pois o número de jogos diminui bastante. Começo pelo paper de José Apesteguia e Ignacio Palacios-Huerta (AER, 2010), que analisa 129 decisões em pênaltis, entre 1970 e 2003, utilizando dados de diversos campeonatos de clubes e seleções. O resultado: o time que bate a primeira penalidade tem uma chance desproporcional de terminar vencedor. Mais precisamente, em cerca de 60% das observações, quem inicia a disputa acaba vencendo. Esta vantagem é de fato considerável quando levamos em conta que campeonatos importantes (em particular, a Copa do Mundo) podem ser decididos por pênaltis.

A interpretação dos autores é que, ao bater o primeiro pênalti, um time joga a pressão sobre seu adversário para converter, elevando assim as chances de erro (ou seja, a motivação vem da Economia Comportamental, como na grande maioria dos papers em Economia que usam dados de futebol). Técnicos e jogadores parecem estar cientes desta vantagem. Em entrevistas com mais de 200 profissionais, constatou-se que 96% prefeririam bater o primeiro pênalti se pudessem escolher. A grande maioria justificou esta opção pela pressão que se coloca sobre o adversário.

Além disso, até 2003, a definição de quem iniciaria a disputa era aleatória (deteminada por cara ou coroa). A partir desta data, o capitão do time vencedor do cara ou coroa poderia escolher se bateria primeiro ou depois. Entre 2003 e 2008, em 20 partidas foi possível identificar quem foi favorecido pela moeda (utilizando os vídeos dos jogos). Em 19 destas, o capitão optou por bater o primeiro pênalti.

2 comentários:

  1. Excelente post, Mauro. A título de sugestão, vale notar que o Ignacio Palacios-Huerta tem um livro sobre aplicações de Teoria dos Jogos no futebol. Segue o link:http://www.palacios-huerta.com/book.html

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    1. Obrigado, Matheus!

      Não conhecia o livro. Parece bem interessante. Valeu pela dica.

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