sábado, 27 de setembro de 2014

A eleição já acabou


Na pesquisa de 2o turno, Dilma está com 47% e Marina 43%. Isso, considerando os tempos de TV atuais (12 minutos Dilma, 2 minutos Marina).

No segundo turno o tempo fica 50%-50%. Dada a estimativa do Bernardo da Silveira e do João Manoel (artigo) de que o aumento de 1 ponto percentual no tempo de TV causa o aumento de 0,27 ponto percentual no voto, qual é a dúvida? A eleição já tá ganha! Por que tanto mimimi?

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

BALEIA BALEIA BALEIA!


Essa foi a notícia que saiu no jornal depois de uma baleia ter dado um tiro na outra.

E a baixaria continua

O PT volta a bater na tecla de que independência do BC significa entregar a política monetária para os bancos. Mas dessa vez foram mais longe (veja vídeo abaixo). Estão insinuando que Marina quer dar o BC de bandeja para o Itaú.

Triste que o debate tenha descambado para isso. Mas parece que esta estratégia está funcionando. Vide o crescimento de Dilma nas pesquisas.



Sistemas eleitorais


Nessa semana publiquei um pequeno comentário sobre a regra eleitoral brasileira, e como ela favorece a eleição de figuras midiáticas. O texto teve uma discussão mais ampla na seção de comentários, sobre as vantagens e desvantagens do voto distrital vis-à-vis o sistema proporcional. Lembrei de um artigo escrito pelo Carlos Eduardo há algum tempo, que explica bem esses pontos. Abaixo reproduzo o texto.

***

Sistemas Eleitorais
(Carlos Eduardo S. Gonçalves) 

Em ano eleitoral, volta à baila a discussão sobre reforma política. O debate centra-se muito nos aspectos do financiamento da campanha (público/privado), no uso abusivo da máquina pública e na fidelidade partidária, deixando de lado o que no fundo me parece mais importante: a necessidade de uma mudança mais abrangente e radical, que mude o sistema eleitoral na sua raiz e assim afete os incentivos de nossos políticos.

Há dois cortes fundamentais quando se discutem arranjos políticos comparados. O primeiro é a dicotomia clássica entre tipos de governo, a saber, Parlamentarismo e Presidencialismo. O segundo, aparentemente mais relevante para questões de economia, diz respeito ao sistema eleitoral, com a divisão entre Distrital e Proporcional.

A evidência empírica disponível sinaliza que regimes presidencialistas têm políticas públicas e taxas de crescimento econômico piores que os regimes parlamentaristas, mas a dificuldade de traçar um sentido claro de causalidade correndo do sistema de governo para aquelas duas variáveis de interesse é grande, em vista da predominância de países da América Latina e África entre as nações presidencialistas. O ponto é que o mau desempenho desse grupo particularmente problemático pode estar contaminando a variável “Presidencialismo” na análise empírica. De todo modo, para o Brasil essa discussão é menos importante no momento, visto que não faz tanto tempo assim o país escolheu, sem margem para contestação, o regime presidencialista.

No caso do corte Distrital/Proporcional, as evidências são mais claras. Antes de mencioná-las, contudo, um breve resumo das diferenças teóricas entre esses dois possíveis arranjos.

No sistema proporcional, as cadeiras do Congresso são ocupadas pelos partidos na medida quase exata da proporção de votos que esses recebem nas eleições. Se há 200 vagas no Congresso, por exemplo, um partido pouco representativo que tenha recebido apenas 5% dos votos nas eleições, termina com 10 cadeiras no Parlamento. Como essas cadeiras são alocadas dentro do partido depende da natureza das chamadas “listas eleitorais”. Nas listas abertas, os candidatos mais diretamente votados pelos eleitores têm prioridade dentro do partido. Já no caso das listas fechadas, os eleitores votam numa lista predeterminada e ordenada pelos dirigentes do partido – a soberania do eleitor é, portanto, menor nesse caso (e os incentivos à corrupção maiores).

Voltando à divisão Distrital/Proporcional, o consenso na literatura política é que enquanto esse último tem a vantagem de garantir representatividade para minorias raciais/ideológica/etc, aquele é mais eficiente em termos de “accountability” dos políticos e governabilidade.

No sistema Distrital é eleito quem obtiver a maioria dos votos do Distrito. Desse modo, candidatos com preferências muito idiossincráticas (os “nanicos”) não encontram um lugar ao sol. Claro está, esse esquema eleitoral coíbe a participação, ou melhor, desincentiva a entrada de políticos/partidos incapazes de angariar boa parcela dos votos totais. Como resultado, em equilíbrio, o número de partidos é menor no sistema Distrital, o que facilita a governabilidade. Além disso, porque a eleição ocorre num Distrito relativamente pequeno – por exemplo, o Distrito do Pacaembu –, o conhecimento em relação aos candidatos é maior, as campanhas são mais baratas, e a proximidade geográfica ajuda o eleitor a vocalizar suas queixas e insatisfações.

Não à toa, os dados mostram que, tudo o mais constante, a corrupção é de fato menor em países que adotam o sistema Distrital (em relação, claro, aos países que adotam o Proporcional).

E não apenas mais governabilidade e menos corrupção – dois problemas gravíssimos de nosso atual regime “presidencialista-de-coalizão-de-araque”. O sistema Distrital também gera maior austeridade fiscal. O motivo é simples. Como no arranjo Proporcional o candidato precisa levantar votos em uma parcela ampla do eleitorado (no Brasil, em um Estado inteiro; em Israel, no país inteiro!), sua plataforma tende a favorecer grandes grupos organizados da sociedade, como os aposentados, por exemplo, que não se concentram de modo desproporcional em alguns poucos distritos, achando-se dispersos geograficamente. Como conseqüência, mesmo controlando para estrutura etária e outras variáveis explicativas, a análise estatística revela que os gastos públicos em países com sistema Proporcional são mais elevados.

Fosse o Brasil um país com importantes clivagens ético-raciais, seria discutível se uma mudança em direção a um sistema Distrital valeria a pena. Não sendo, migrar para o sistema Distrital é o que se costuma chamar em economia de “almoço grátis”. Para a sociedade, claro, mas talvez não para os políticos.

(Publicado originalmente no blog Sob a Lupa do Economista, em 16/7/2010)

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Economist X passed yesterday

Friends, it is true. He is dead now, my old chap X...didnt believe in god, but probably went to Heaven anyway. It was a heart attack that took him from us. He read that Dilma Roussef dismissed plans of fiscal tightening as something unimportant and couldnt bear it. His heart was fragile since Brazil lost to Germany, 7-1, and was in and out of hospitals because couldnt avoid reading the economic news -- as his doctor had prescribed. The recent rise of Dilma in the polls only made things more difficult for him.

Let´s honor the spirit of our friend X, let´s fight for all he stood for, beginning with a decent fiscal policy. 

We will miss you, X. Wherever you are, buddy, pray for us Brazilians -- we desperately need some divine help. 

Receita Federal preocupada com o emprego


Saiu uma reportagem no Estadão em 24/09/2014 dizendo que a "Receita Federal vai apertar a fiscalização nos aeroportos em 2015".

Vários aspectos me chamaram a atenção. Passo a discuti-los a seguir.

Violação de Privacidade

As companhias aéreas informarão vários dados dos passageiros ainda na origem do vôo como peso da bagagem, origem do vôo, localização do assento do passageiro (!), etc. Depois disso, a Receita Federal cruzará com os dados que tem para decidir se o passageiro será ou não fiscalizado. 

Tenho a impressão que os Estados Unidos fazem isso, mas a alegação é outra. Eles estão preocupados com terroristas e não me consta que o cidadão de seu país seja fiscalizado por causa dessas informações. Por isso, acredito que a informação vá para a Imigração e não para o IRS. Se isso for correto, o procedimento no Brasil é inovador.

Então, pergunto se o envio dessas informações à Receita Federal não constitui violação de privacidade. Alguém sabe responder?

Atraso na Implantação de Leitura Facial

O procedimento de fiscalização será feito via leitura facial. Isso já é feito em países europeus e nos EUA, portanto a imigração está caminhando na fronteira das inovações tecnológicas. (Ou seria a Receita Federal?).

Para não variar, a tecnologia deveria ter sido implantada antes da Copa, mas não foi. Você está surpreso(a)?

A Pérola

O que mais me chamou a atenção foi a seguinte frase proferida pelo Secretário da Receita Federal, Carlos Alberto Barreto (ou, não ficou claro, pelo Subsecretário, Ernani Checcucci): "A atividade aduaneira não é só tributação. Buscamos a proteção da indústria e do emprego nacional." 

A frase revela várias coisas interessantes que passam na cabeça de nossas autoridades.

1. Desde quando é função da Receita Federal proteger a indústria e o emprego nacional?

2. A frase não vem da cabeça desses nobilíssimos contribuintes. Certamente foi ouvida nos corredores da Ministério da Fazenda e reproduzida na entrevista. Por que essa inferência? Porque o fiscal da Receita Federal é... fiscal, e a ideia estúpida que fundamenta a frase não é típica de fiscais da receita, mas de técnicos de outras alçadas.

3. Mostra que a Receita Federal tem consciência de que sua atividade de arrecadação é mal vista, por isso precisam achar uma função melhor para o que fazem. Mas, note, ela só é mal vista, porque a população não recebe dos pagamentos de impostos a prestação de um serviço decente na saúde, segurança pública, etc.

4. A ideia revela a grande "maldade" da Receita Federal: prejudicar o tanto quanto puder o consumidor, principalmente aquele que é assalariado, junta um dinheirinho para ir ao exterior e não pode trazer produtos de lá.

5. A ideia revela hipocrisia, pois, se a função da Receita Federal fosse, de fato, proteger o emprego nacional, deveria reduzir a carga tributária, estimulando o consumo interno e as exportações. (Eu sei que não é a Receita Federal que determina quais impostos e por qual alíquota serão cobrados. Mas essa ideia protecionista vem da alçada que pode alterar a lei para isso.)

Enigma

Não sou contra o aumento da fiscalização para cumprimento da lei. Mas, sou contra a manutenção do teto de US$ 500 para compra de produtos no exterior. Esse valor é o mesmo há décadas. Considerando que o número de brasileiros que viajou para o exterior no primeiro semestre foi de 11 milhões de pessoas (está na mesma reportagem), e que todos eles trazem esse valor em produtos do exterior, isso representa 0,57% do PIB. Mesmo os gastos totais de viagens ao exterior não é muito representativo em relação ao PIB, acho que deve ser algo em torno de 1,4%.

Aí ocorre-me o seguinte enigma. São fatos que o valor a ser gasto com mercadorias trazidas por turistas não é tão representativo em termos de PIB e que o valor máximo está congelado há décadas. Além disso, o aumento do valor máximo estimularia a competição com produtos nacionais com o potencial de melhorar sua qualidade e o preço ao consumidor final. Então, por que o governante do turno não acena com um pequeno afago à classe média e aumenta o valor máximo de mercadorias que é permitido trazer do exterior para uns US$ 2 mil?

Maluf, Tiririca, Russomano e o voto distrital


Na semana passada saiu a primeira pesquisa do Ibope para deputado federal em São Paulo (veja aqui). E no topo aparecem figuras bem conhecidas como o palhaço Tiririca, Paulo Maluf e Celso Russomano. Fiquei pensando como um cara tipo Maluf pode ter votação expressiva, mesmo com seu histórico de denúncias de corrupção.

Mas ele (assim como os outros citados acima) só se elege por causa do caráter proporcional da eleição para deputado no Brasil. Em particular, Maluf precisa ter muitos votos no Estado como um todo. Mesmo com uma rejeição enorme, se 1% das pessoas votarem nele, conseguirá mais de 300 mil votos (o eleitorado no Estado é cerca de 30 milhões). Elege-se com o pé nas costas: em 2010, o terceiro colocado no Estado teve votação menor que isso (veja aqui).

Já em um sistema distrital, Maluf dificilmente se elegeria. Isso porque ele precisaria de uma votação expressiva em um distrito. Na regra atual, por ser uma figura conhecida, Maluf consegue poucos votos em diversos locais, que somados acabam viabilizando sua candidatura. Com o voto distrital, ele não poderia fazer essa soma e nunca seria eleito.

PS: Maluf foi considerado ficha suja e, portanto, teve sua candidatura barrada pela justiça eleitoral. Mas continua em campanha porque tem direito a recurso. Ou seja, para se eleger, ele não precisa só de votação expressiva; precisa reverter a decisão da justiça (veja aqui).

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Debate acalorado entre economistas dos presidenciáveis


Há relatos na imprensa de que economistas ligados aos candidatos à presidência bateram boca em um seminário hoje na FGV. Houve acusações, por parte do economista do governo, de que seus opositores estavam defasados ou trataram do tema em debate de forma ingênua. Um deles, em resposta, comentou:
Sempre que a gente está num debate público e enfrenta uma discordância e a forma de enfrentá-la é sugerindo que seu oponente é ignorante ou lê pouco é um sinal que estamos em maus lençóis”, afirmou, sob aplausos, o economista tucano, que em tom de provocação encerrou sua participação afirmando que continuará lendo e aprendendo com as teorias econômicas de Friedman.
A matéria com detalhes sobre o evento pode ser vista aqui.

Projeção psicológica
Posso estar enganado, mas quando um economista sugere que outro está se informando estritamente com base nos escritos de um economista em particular (no caso Milton Friedman) publicados 40 anos atrás, ele está revelando sobre si mesmo -- o que os psicólogos chamam de "projeção psicológica" (o ato de se defender de impulsos, sensações e pensamentos negativos sobre si mesmo atribuindo-os aos outros). 

Acadêmicos versus "de mídia": viés de seleção?
Esse bate-boca -- indigno de quem tem uns 20 anos de educação formal nas costas -- levanta uma questão interessante: o quão atualizado nos desenvolvimentos "de fronteira" é razoável esperarmos que economistas que participam do "debate público" estejam? 

Não há obviamente nenhum conflito intrínseco entre essas duas coisas. Mas pergunto a questão porque tenho a impressão que muita gente na área acadêmica que acompanha de perto a literatura não está disposta/tem interesse/ tem "traquejo" para pontificar na mídia sobre o assunto do qual é expert. Talvez porque a cobertura da mídia é quase sempre superficial, logo pouco interessante. O fato é que isso, se verdade, deixaria um vácuo nesses espaços que acabam sendo preenchidos por economistas com outros traços que podem não incluir estar "up-to-date" com a literatura científica da área na mesma medida que o economista acadêmico, expert no assunto, estaria -- se manter-se atualizado na literatura em um par de tópicos já é difícil para economistas na academia que têm por ofício tal tarefa, é razoável crer que é tão ou mais difícil para quem já não está mais conectado à ela.

Expansão educacional e a qualidade do serviço


Meus pais estão fazendo uma pequena reforma em casa. E não estão muito felizes com o pedreiro. Dizem que o pedreiro que costumavam contratar (e que acabou falecendo recentemente) era muito melhor. E que a geração atual não tem mais o mesmo capricho e disposição a fazer um bom serviço, yadda, yadda, yadda.

Já ouvi várias outras histórias desse tipo, aplicadas a serviços de baixa qualificação. Não acredito que a geração atual seja intrinsecamente mais preguiçosa. Minha interpretação é que essa aparente piora tem a ver com a recente expansão educacional.

Para focar no mecanismo que estou propondo, vou supor que a distribuição de habilidade inata na população não mudou ao longo do tempo.

Antigamente a educação superior era restrita a poucos. Assim, até pessoas relativamente habilidosas permaneciam sem instrução específica, e ficavam em ocupações de baixa qualificação. Com a expansão educacional recente, vários desses indivíduos puderam optar por uma carreira universitária, especializaram-se e, portanto, não se tornaram pedreiros.

Ou seja, indivíduos relativamente habilidosos migraram de ocupações de baixa qualificação para ocupações de qualificação mais elevada. Isso derruba a habilidade média dos indivíduos sem formação universitária, o que acaba se refletindo na qualidade de serviços como o de pedreiro.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O pesadelo burocrático brasileiro

A foto abaixo foi tirada durante uma apresentação de Gerald Deguen, vice-presidente da BMW no Brasil. O slide mostra as licenças necessárias para instalar a nova fábrica da empresa em Santa Catarina. Um verdadeiro pesadelo, que ilustra bem o tal do custo Brasil. 


Fonte: Francisco Fresard, colunista do Jornal de Santa Catarina (link).

A Indústria de Hedge Funds


Há uma enorme curiosidade dos alunos de economia, e mesmo de boa parte do público em geral, sobre características dos chamados mercados financeiros. No intuito de saciar ao menos um pequeno pedaço dessa curiosidade, o blog publicará textos sobre o assunto feitos pela "Liga de Mercado Financeiro" da FEA-USP (link para a página aqui). A Liga é uma associação criada e dirigida por estudantes do curso de economia que, no intuito de divulgar a área, promove seminários com profissionais do setor, divulga material de ensino, organiza cursos e produz uma revista com assuntos da área distribuída em várias universidades paulistas.

O texto abaixo, de autoria de André de Souza Limaintroduz de forma didática esses veículos de investimentos conhecidos por sua agressividade -- os hedge funds.

***

Em uma tradução livre, hedge funds são fundos que fazem hedge, ou seja, se posicionam comprados e vendidos em diversos tipos de ativos. Eles, dessa maneira, conseguem diminuir sua exposição ao risco de mercado e tentam alcançar retornos mais altos. Na prática, o termo hedge fund é utilizado para diversos tipos de fundos, muito diferentes entre si, voltados a investidores qualificados, com uma estrutura peculiar, pouco regulados e com gestores que, na maioria das vezes, investem seu próprio capital.

O primeiro gestor de hedge funds foi Alfred W. Jones, no fim da década de 40. Ao contrário do que se possa pensar, Alfred não frequentou nenhuma escola de negócios, não tinha um PhD em finanças quantitativas e nem trabalhou em um banco de investimentos. O precursor dessa indústria era muito mais um intelectual do que um investidor, um homem que viajou o mundo de navio e trabalhou em um grupo anti nazista clandestino, o Leninst Organization.

Aos quarenta e oito anos, com apenas cem mil dólares, Alfred criou o primeiro hedge fund da história. Com isso, desenvolveu a estrutura que perdura até hoje: i) taxas de administração, ii) taxas de performance, iii) pouca regulação e transparência de informações para os cotistas, iv) a estratégia long and short, v) alavancagem.

Alfred percebeu, durante seus estudos de análise técnica, que era muito difícil conseguir prever para qual direção o mercado se moveria. Com isso, começou a pensar em maneiras nas quais poderia manter todo o seu capital investido, e ainda assim ter uma menor exposição a todas as reviravoltas que o mercado poderia ter. Sua principal conclusão foi que um gestor de fundos poderia combinar duas técnicas muito poderosas: comprar ações que ele considerava promissoras com dinheiro emprestado (alavancado) e vender outras não tão boas à descoberto. As duas técnicas eram consideradas muito arriscadas, mas, se combinadas, poderiam produzir um portfólio bastante eficiente. Dessa maneira, ele pôde criar o primeiro “Hedged Fund”.

Com o crescimento da partnership, Alfred convidou alguns gestores para cuidar de partes do seu portfólio. Na busca por talentos, ele criou uma estrutura inovadora: a taxa de performance de 20%. O fundo contratava gestores especialistas em diferentes tipos de ações, pedindo que eles investissem seu próprio capital no empreendimento, e dando-lhes 20% do que excedesse algum benchmark. Na realidade, Jones estava criando um fund of funds dentro da sua empresa. Durante os anos 60, o fundo teve retornos espetaculares e foi o pilar para o desenvolvimento de uma indústria que, nos dias de hoje, supera $1,5 trilhão de dólares.

Ao longo dos anos, outras estratégias foram sendo desenvolvidas e a indústria de hedge funds alcançou números robustos, passando de apenas $90 bilhões de dólares no inicio dos anos 90, para $1,5 trilhão de dólares e mais de 8.000 fundos. Mesmo sendo menor que a indústria de mutual funds, os hedge funds mostraram-se, com o passar dos anos, uma alternativa de investimento muito viável e crescente no mercado financeiro.

Com o tempo, cada fundo acabou se tornando especialista em determinada estratégia. De acordo com a Revista Bloomberg Markets (Jan/2006), as principais estratégias são:

1. Event – Driven Strategies: Nessa estratégia, o fundo tenta tirar proveito de determinadas situações, tanto políticas quanto de negócios, que podem afetar o valor de determinados ativos.

2. Long Short Equity: É a técnica que consiste em construir posições compradoras ou vendedoras sobre algumas ações que podem se valorizar ou se depreciar. Essa técnica consegue se beneficiar de grandes distorções do mercado.

3. Macro Investing: Talvez a estratégia mais famosa nos últimos 30 anos, empregada por George Soros, Stanley Druckenmiller e Louis Bacon. É, também, a estratégia mais ampla da indústria. Os gestores trabalham para buscar ineficiências de preços e tentar prever os efeitos nos preços dos ativos de alguns eventos macroeconômicos e políticos.

4. Fixed – Income Arbitrage: Consiste na tomada de posições long and short em ativos de renda fixa. Normalmente os ganhos de arbitragem são aumentados com alavancagem.

5. Convertible Arbitrage: É a estratégia que o gestor combina posições longas em obrigações conversíveis em ações e short nas mesmas ações. Essa estratégia é interessante, uma vez que o instrumento híbrido, ou seja, a obrigação tende a cair de forma menos intensa do que a ação.

6. Commodities: Estratégia em que os gestores tentam prever os efeitos de possíveis ajustes na oferta e na demanda de determinadas commodities. Com isso, torna-se possível, com base em projeções, beneficiar-se de altas ou baixas nos preços.

Com a estabilização da moeda brasileira, a posterior queda na taxa de juros, e o desenvolvimento de gestores independentes em plataformas de private banking ou family offices, ampliou-se no Brasil a indústria de fundos multimercados. De maneira geral, pode-se classificar um fundo multimercado como sendo um hedge fund brasileiro.

Uma diferença importante entre os multi-mercados e os hedge funds é o seu benchmark. Se nos EUA a busca principal é por retornos absolutos, no Brasil essa busca é por superar o CDI.

No Brasil, os fundos multimercados são geridos, em sua maioria, por gestores independentes, ou seja, empresas que não necessariamente fazem parte de alguma instituição financeira, mais conhecidos como Assets. Esse tipo de modelo permite a criação de uma maior gama de opções de investimentos. Essa é a chance de o cliente possuir um atendimento mais personalizado, além do fato de normalmente serem formadas por profissionais com ampla experiência no mercado.

Historicamente, os fundos multimercados brasileiros não precisavam de muito esforço para conseguirem retornos altos. Em virtude da alta taxa de juros, o Brazil Kit – nome dado pela revista The Institutional Investor ao portfólio composto na maior parte de renda fixa, com retornos de dois dígitos, e algumas ações, câmbio, etc – era uma fonte bastante segura de se obter retornos reais de 6%. Com a estabilização econômica e desenvolvimento do mercado de capitais, a indústria de fundos no Brasil vem se sofisticando consideravelmente.

De maneira geral, os fundos brasileiros são bem vistos pelos investidores internacionais. Em Junho de 2011, a Bloomberg elogiou a transparência da indústria de fundos nacional bem como seu retorno, apesar de bastante apoiado em títulos de renda fixa. Algumas das maiores gestoras do país já nem aceitam investimentos, em virtude do seu grande tamanho, comparado ao relativamente pouco desenvolvido mercado de capitais brasileiro.

André de Souza Lima é Gerente de Projetos da Liga de Mercado Financeiro da FEA-USP.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Quanto custa o bolsa empresário para o contribuinte?


Segundo a Jornalista Miriam Leitão o montante de subsídios aos empréstimos do BNDES a empresas será de R$80 bilhões no quadriênio 2012-2015. A jornalista não cita fontes e eu não encontrei a informação em nenhum outro lugar, mas a íntegra do comentário feito à rede CBN pode ser vista aqui. Isso dá algo como R$20 bilhões por ano ou mais ou menos o que o governo gasta anualmente com o Bolsa Família. Curioso, diante da notícia, é notar que durante este mesmo período o setor industrial brasileiro andou para trás.

dots do fed

Fiquei irritado com 2017. A inflação está na meta, o desemprego está abaixo da NAIRU, e o juros estão abaixo do neutro. Assim não dá. Pelo menos o forecast tem que ser consistente.

Desigualdade para de cair

Acabou de sair no site do Estadão. O gráfico abaixo mostra índice de Gini, calculado com base nos dados da PNAD:

Link para a notícia aqui.

Update (20/9)
O IBGE revisou os dados e o Gini pela renda do trabalho caiu um pouquinho entre 2012 e 2013, ao invés de ter subido como no gráfico. De qualquer forma, aparentemente o quadro é de estabilidade desse indicador.

Alexandre Rands should study more

He is correct in bashing the UNICAMPERS, by definition.

But before defending the dual mandate for the CB, he should study Barro-Gordon classic model.

Math is easy, and results are powerful : including the potential gdp growth in the model is theoretically irrelevant (but in practice this would be a terrible signal amidst so much uncertainty); whilst including growth targets above potential create inflation bias -- which is no good.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Desigualdade subindo no Brasil?

Saiu ontem no site da Veja:
Está engavetado no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) um estudo inédito que mostra uma realidade bem diferente da que vem sendo pregada pelo PT na campanha eleitoral de Dilma Rousseff. O documento, ao qual o site de VEJA teve acesso, mostra que a concentração de renda aumentou no Brasil entre 2006 e 2012. Dados do Imposto de Renda dos brasileiros coletados por pesquisadores do Instituto mostram que os 5% mais ricos do país detinham, em 2012, 44% da renda. Em 2006, esse porcentual era de 40%. Os brasileiros que fazem parte da seleta parcela do 1% mais rico também viram sua fatia aumentar: passou de 22,5% da renda em 2006 para 25% em 2012. O mesmo ocorreu para o porcentual de 0,1% da população mais rica, que se apropriava de 9% da renda total do país em 2006 e, em 2012, de 11%. Os dados referentes a 2012 correspondem aos mais recentes apurados pela Receita Federal.
Não sei até que ponto a notícia é quente. Mas é consistente com a discussão do Marcos Lisboa (vide post anterior) sobre políticas recentes privilegiando os mais ricos -- a tal da "bolsa empresário" que ele mencionou. Ou seja, beneficiam-se tanto a parte mais pobre da população (via políticas redistributivas como Bolsa Família) como a parte mais rica (via política industrial, BNDES, subsídios e afins). Quem perde é a parte do meio da distribuição, com impostos mais altos e mais distorção. E tudo pode ocorrer, mesmo com o índice de Gini caindo ao longo do tempo.

Mas tudo isso depende de quão firme é a matéria da Veja. Esperemos as cenas dos próximos capítulos. A matéria completa pode ser lida aqui.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Debate sobre desigualdade no Brasil

Interessante debate entre Marcelo Neri e Marcos Lisboa na TV Estadão.



(Agradeço ao Fernando Botelho pela dica.)

Independência do Banco Central: Quem Protege o Valor do Seu Dinheiro?


Um artigo do ex-presidente do Banco Central, o economista Gustavo Franco, publicado no Globo no último fim de semana faz didáticos esclarecimentos sobre a questão da independência do Banco Central. É leitura mandatória para quem quer entender um pouco do debate em torno de uma questão que tem ocupado espaço central nas campanhas das principais candidatas.

Trechos que merecem destaque:

Banco Central como agência reguladora
Os conselheiros de agências reguladoras possuem um mandato fixo. Isso significa que, se o presidente da República quiser substituir alguma dessas pessoas (que ele mesmo escolheu) antes do fim de seu termo, teria que submeter seu desejo a uma votação no Senado. [...] A única “agência reguladora” onde os dirigentes não têm mandato fixo é o Banco Central do Brasil.
Em todos os outros casos, os mandatos servem para proteger os diretores da influência política de seus regulados, geralmente monopólios e invariavelmente potentados econômicos, e assegurar a integridade técnica de decisões que devem transcender os interesses de um governo e alinhar-se com os interesses maiores e difusos na população afetada pelo serviço.
É claro que o mesmo vale para o BC, ou deveria valer, pois é de interesse da população manter os responsáveis pela condução da moeda protegidos tanto das pressões dos bancos quanto dos conflitos de interesse com o Tesouro.
Este conflito reside no simples fato que o BC dispõe de uma máquina de pintar papel que pode ser usada para o mal, pelo próprio controlador da instituição, interessado em pagar suas contas com papel pintado, pensando fazer o bem, mas produzindo inflação, ou seja, tributando a população menos favorecida sem passar pelo rito legislativo próprio para o aumento de impostos. O mesmo vale quando o controlador resolve quebrar um banco público a fim de assegurar uma eleição, como num caso célebre ocorrido em um estado da federação, e uma tentação permanente.

O risco de "captura"
Sobre o risco de transferência de poder do Banco Central, uma vez independente, das mãos do presidente e do congresso, dirigentes democraticamente eleitos, para as mãos dos banqueiros e seus técnicos, Gustavo Franco esclarece:

Para começar, os ditos burocratas são escolhidos pelo presidente (como ministros e secretários) e aprovados pelo Congresso, um rito comum para o exercício de diversas funções de estado. Não se concebe que haja eleições para a Anatel ou para o BC, bem como para promotor ou para a magistratura. Tampouco que esses cargos tenham que ser exercidos por parlamentares, e por indicados pelos partidos políticos, ou que tenham seus titulares escolhidos em assembleias de conselhos populares ou de representantes da sociedade civil.
O fato é que há uma prática internacional solidamente estabelecida e consagrada sobre independência do BC. Por isso, e também pela percepção de que o Brasil estaria apenas formalizando o que já praticava há vários anos, a independência do BC vinha se tornando um tema banal, que ia acabar formalizado por gravidade.

O artigo completo pode ser lido aqui.

A anti-Carta ao Povo Brasileiro


Doze anos após Lula assinar a notória Carta ao Povo Brasileiro (íntegra aqui), Dilma Rousseff vai compondo uma verdadeira anti-Carta ao Povo Brasileiro. Abaixo, só um de vários exemplos dos parágrafos dessa Carta que a presidente está distribuindo nos últimos dias:

“Minha filha, meu filho, esse povo da autonomia do Banco Central quer é o modelo anterior, quer é fazer um baita ajuste, um baita superávit primário, aumentar os juros pra danar, reduzir emprego e reduzir salário, porque emprego e salário não garantem a produtividade, segundo eles. Eu sou contra isso, eu tenho lado.” (Retirado de notícia publicada pelo site de O Globo em 11/09/2024, link aqui)

O recado foi dado com muita clareza. Ela não está do lado da autonomia do Banco Central. E a presidente Dilma pode certeza. Se ela for eleita, a não ser que esconjure a anti-Carta e escolha para presidente do Banco Central um monetarista notoriamente sanguinário (caros colegas bloguistas economistas, pergunto-lhes: quem poderia ser esse notório monetarista sanguinário?), a cada reunião do Copom, por muito tempo, o mercado financeiro se lembrará do conteúdo da anti-Carta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

O Banco Central Independente vai puxar seu pé à noite!


Todo mundo já deve ter visto ou lido sobre a peça publicitária da campanha de Dilma que afirma que dar independência ao Banco Central significa colocar decisões de preços, salários, câmbio e mais um monte de coisa na mão de banqueiros e seus técnicos -- no rádio eu ouvi uma versão que fala até que a independência do BC afetaria "até o valor da prestações que você paga".   

Rogério Weneck (professor da PUC-Rio) escreveu artigo hoje no Estadão sobre o assunto. Em um trecho, diz ele:
É inacreditável que, numa discussão tão importante como a que envolve o grau de autonomia que deve ser atribuído ao Banco Central, a presidente Dilma se tenha permitido subscrever argumento de tão baixo nível. Brandindo essa empulhação eleitoreira na televisão, a candidata pode até soar convincente entre eleitores menos informados, mas queima de vez qualquer possibilidade de ser levada a sério em questões relacionadas à condução da política econômica.
Se quisesse, Dilma poderia recorrer a argumentos perfeitamente razoáveis contra a independência formal do Banco Central e a favor de uma independência de facto, tácita, como a que foi concedida à instituição nos governos de seus dois predecessores. Mas tudo indica que a presidente já não tem qualquer preocupação com sequer manter as aparências na discussão dos rumos da política econômica. Em desesperada tentativa de se reeleger, rasgou completamente a fantasia. Já não vê qualquer problema em recorrer a uma argumentação tão despropositada, primitiva e populista como essa no horário nobre da propaganda eleitoral.
O texto completo pode ser lido aqui.

PS: O gráfico abaixo é food for thought...

O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,dilma-e-o-banco-central-imp-,1558886
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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quanto vale um bom professor?


Sempre que o estado vexaminoso da educação brasileira é destacado na imprensa, ouvimos que é preciso investir em professores de qualidade. Mas como se mede a qualidade de um(a) professor(a)? Um método frequentemente utilizado na literatura da área de Economia da Educação é o chamado "método do valor adicionado" -- a ideia é que a qualidade do professor é medida (aproximadamente) pelo impacto do professor no score dos estudantes, controlando-se, obviamente, para níveis individuais de habilidade acadêmica e outras variávies observáveis que possam influenciar os "test scores" dos estudantes.

Essas medidas de "valor adicionado" (VA) dos professores já são utilizadas em escolas de alguns estados americanos para avaliar e selecionar professores. Há quem diga que a medida beneficiará estudantes; outros falam que a medida não captura a qualidade do professor. 

Variação e notas medem qualidade?
Uma objeção natural a medir a qualidade do professor por seu impacto na nota dos estudantes é que as notas observadas em uma turma podem ser consideravelmente influenciadas pela qualidade dos estudantes. O professor que ensinasse turmas com um número desproporcional de alunos academicamente mais fracos seria penalizado -- por simetria, o professor de escolas que, por alguma razão, recebem um número proporcionalmente maior de bons alunos seria imerecidamente bem avaliado por esse tipo de métrica. A questão ainda está em aberto.

Impacto no teste ou na vida?
Uma outra questão, talvez até mais interessante, é se esse "valor adicionado" pelo professor se restringe à performance dos alunos nos testes ou seu impacto causal é mais duradouro, indo além da performance nos testes e se estendendo pela vida adulta do aluno.

Há portanto duas questões interessantes: será que o "VA" do professor é uma medida enviesada de sua qualidade? Será que o professor "de qualidade" tem impacto de longo prazo na vida do estudante?

Quanto vale um bom professor?



Um estudo publicado na última edição da American Economic Review oferece resposta para essas duas perguntas. Raj Chetty (Harvard University), John N. Friedman (Harvard University) e Jonah E. Rockoff (Columbia University) analisaram dados sobre notas em testes de matemática e inglês de mais de dois milhões de crianças da 3ª a 8ª série de um distrito escolar americano no período entre 1989 e 2009. Eles combinaram esses dados com dados da receita federal americana para descobrir informações sobre renda, educação superior  e uma série de dados dos pais (renda, instrução, poupança etc). A combinação desses dados permitiu aos autores construir um gigantesco painel de dados que acompanha mais de dois milhões de pessoas do ensino infantil até a fase adulta.

Dois achados desse estudo merecem destaque.

O primeiro é o de que não é encontrada evidência de que as estimativas para o valor adicionado do professor são enviesadas por um possível agrupamento de estudantes com base em características observáveis (habilidade acadêmica, renda, cor, sexo etc). E as estimativas encontradas sugerem que essas medidas de qualidade do professor de fato impactam positivamente a performance dos estudantes nos testes -- um aumento médio de 0.1 desvio-padrão na nota do teste por desvio-padrão do "valor adicionado" do professor acima da média.

O segundo é o de que ter sido ensinado por um professor de "alta qualidade" tem impacto duradouro sobre a trajetória de renda dos estudantes. Utilizando um modelo dinâmico da função de produção de educação onde é especificado a relação entre o insumo "professor" e seu impacto, via uma série de outros canais (performance no ensino fundamental/médio/probabilidade de fazer curso superior etc), nos rendimentos futuros, os autores estimam que um aumento de um desvio-padrão na qualidade do professor eleva os ganhos anuais em cerca de 1% -- algo que, sob certas hipóteses, seria equivalente a um aumento bruto (não descontado) de 25 mil dólares no seu fluxo total de renda em vida.

O trecho abaixo, extraído da conclusão do artigo, dá um bom resumo de um dos principais resultados do trabalho e, como é comum, chama atenção para algumas possíveis implicações para o desenho de políticas: 
Whether or not VA should be used as a policy tool, our results suggest that parents would place great value on having their child in the classroom of a high value-added teacher. Consider a teacher whose true VA is 1 SD above the median who is contemplating leaving a school. Each child would gain approximately $25,000 in total (undiscounted) lifetime earnings from having this teacher instead of the median teacher. With an annual discount rate of 5%, the parents of a classroom of average size should be willing to pool resources and pay this teacher approximately $130,000 ($4,600 per parent) to stay and teach their children during the next school year. Our analysis of teacher entry and exit directly conÖrms that retaining such a high-VA teacher would improve students' outcomes.
While these calculations show that good teachers have great value, they do not by themselves have implications for optimal teacher salaries or merit pay policies. The most important lesson of this study is that finding policies to raise the quality of teaching -- whether via the use of value-added measures, changes in salary structure, or teacher training -- is likely to have substantial economic and social benefits in the long run.

O artigo pode ser encontrado aqui.

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Rio Grande do Sul e reeleição: um case mundial


O Rio Grande do Sul já faz por merecer se transformar em objeto de estudo de cientistas políticos brasileiros e estrangeiros.

Lá, ao contrário do que ocorre no resto do mundo, ser candidato à reeleição é uma desvantagem. Ninguém conseguiu se reeleger governador no Rio Grande do Sul até hoje.

A regra, ao que parece, será confirmada nesta eleição. Ana Amélia, candidata do PP, caminha para retirar Tarso Genro do Palácio Piratini, sede do governo estadual.

Tudo bem. Sem contar 2014, foram apenas 4 insucessos de candidatos incumbentes. É pouco para construir um padrão estatístico. Mas é suficiente para despertar curiosidade intelectual e até acadêmica. Principalmente se olharmos o que ocorreu na eleição presidencial e em todos os demais estados do país desde 1998, primeira eleição que aceitou a reeleição para o executivo.

Há alguma explicação para o fenômeno gaúcho? Terá fundamentos históricos ou sociais? Será decorrência do elevado grau de polítização que, supostamente, existe no RGS? Ou tem a ver com a precariedade fiscal do estado?

Talvez seja algo no mate do chimarrão.

Universidades paulistas pedem mais dinheiro (Bail me out!)


                                              Fonte: Folha

porque pedir mais mesada, afinal, não custa nada...

USP em crise
Aproveito para divulgar uma ótima iniciativa de quatro alunos de pós-graduação da USP. Eles criaram um blog -- o "USP em Crise"* -- onde mostram o ótimo trabalho de levantamento e divulgação de dados orçamentários da USP que estão fazendo. É até lamentável que uma iniciativa dessas de tentar diagnosticar e dar transparência ao que se passou nessas universidades nos últimos anos não tenha partido das unidades de gestão financeira das próprias universidades, sobretudo  porque estão prestes a pedir mais dinheiro dos contribuintes paulistas. Paciência.

Do conjunto de dados divulgado no blog, gostaria de destacar duas figuras. A primeira é essa figura logo abaixo com a evolução dos gastos com pessoal nos últimos vinte e oito anos.

Sobre os dados nessa figura eles comentam: 
De maneira geral, entre 1986 e 2013, observa-se uma tendência de crescimento dos valores gastos tanto com pessoal quanto com outros gastos. Esse segundo tipo variou de R$ 354 milhões (1986) para R$ 1 bilhão (2012), enquanto o gasto com pessoal variou de R$ 1,3 bilhões (1986) para R$ 4,3 bilhões (2013) – todos esses valores foram corrigidos pela inflação, usando o IGP-FGV de maio/2014.
A segunda figura, abaixo, mostra o número de funcionários e docentes contratados desde o ano em que a USP recebeu autonomia financeira (em 1989). A figura deixa evidente, ao contrário do que muitos possam acreditar, que não houve uma explosão de contratações.







* Agradeço ao Mauro pela dica.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Teste eleitoral

Em tempos eleitorais, teste para descobrir qual o candidato mais combina com suas ideias.

Aqui, deu Aécio.

Ops: link estava errado. Agora está correto.

Dilma e o contrafactual

Na campanha eleitoral vale tudo: desde argumentos sofisticados, até coisas super toscas. Abaixo uma seleção da presidenta Dilma. O primeiro trecho reflete o uso adequado de um raciocínio contrafactutal. Sim, a indústria está patinando. Mas só isso não é suficiente para afirmar que a culpa é do governo. É preciso saber qual seria o contrafactual, isto é, o que aconteceria com a indústria caso as políticas do setor não tivessem sido implentadas?
A presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) voltou a defender nesta quarta-feira, 3, em Belo Horizonte todas as realizações de seu governo na área industrial. Ela reconheceu que tem muito ainda a ser feito, porque o País enfrenta um momento difícil, mas alertou para os problemas que o país teria caso seu governo "não tivesse feito uma política industrial". (Fonte: Exame)
Mas no trecho abaixo (extraído do perfil de Dilma no Facebook) o contrafactual foi para o saco. Dilma e Lula criaram milhões de empregos e ponto. Não interessa se os mesmos (ou até mais) empregos teriam sido gerados, caso o PT não estivesse no poder:
Enquanto isso, no Brasil, os governos Dilma e Lula criaram mais de 11 milhões de empregos.
Por fim, nessa mesma postagem no perfil da Dilma, tem um argumento ridículo contra a independência do Banco Central: 
A autonomia do Banco Central, medida defendida por Marina Silva, é um perigo para o País.
A medida tira do presidente da República e do Congresso, eleitos pelo povo, o controle sobre a política econômica do País e entrega para os bancos.
Aí, banqueiros passam a decidir sobre juros, preços, salários, política externa e orçamento.
Importante lembrar: o poder sem limites dado aos bancos levou à crise que fez evaporar 60 milhões de empregos no mundo.
Aí, banqueiros passam a decidir sobre juros, preços, salários, política externa e orçamento.
Importante lembrar: o poder sem limites dado aos bancos levou à crise que fez evaporar 60 milhões de empregos no mundo.
Quer dizer que é mais fácil comprar um banqueiro central (se independente) do que um político?

Aliás, o PT está investindo forte nesse ponto. Tem até um vídeo no site da Dilma, abusando da famosa politics of fear:


(Agradeço a Fernando Botelho e a um comentarista anônimo pelas sugestões).

Nota de Repúdio ao Banco Central


A Veja revelou, em matéria publicada em sua última edição, que o Banco Central do Brasil abriu queixa-crime contra o economista Alexandre Schwartsman. O procurador do Banco Central argumenta que as críticas do economista atentaram "contra a honra da instituição". O argumento é cretino e uma juíza federal tratou de arquivar a queixa dizendo, sobre as críticas, o que deve surpreender apenas os asseclas reacionários do partido no governo: que tudo que foi dito -- duro e em tom de motejo como diz o BC ter sido -- não foi mais do que um mero exercício da liberdade de expressão.

Serviço de utilidade pública
Marcos Lisboa fez um pequeno manifesto que, assinado por vários economistas, circula pelas redes sociais e seguirá/seguiu para editores dos grandes jornais. Uma outra lista de assinaturas está sendo montada eletronicamente. Segue a nota abaixo. Logo em seguida, as instruções para assinar a nova lista.

A recente notícia de uma ação judicial contra o economista Alexandre Schwartsman deixou-nos perplexos. Todos nos acostumamos, durante anos, a ouvir críticas muito piores e inverídicas - como a de que o BACEN seria manipulado pelos bancos - sem qualquer retaliação. O respeito à crítica e ao debate transparente sobre a condução da política monetária, inclusive, tem sido um aspecto fundamental da atuação do BACEN, progressivamente construído desde a estabilização, há mais de duas décadas.

A judicialização como instrumento de repressão à divergência representa um retrocesso inaceitável. Felizmente, a denúncia não foi aceita pela justiça. A intolerância com a divergência e com a crítica ácida e o recurso da máquina pública para suprimir o contraditório, por meio da utilização de uma instituição pública para constranger alguém judicialmente, configuram uma prática incompatível com os valores que uma democracia deve ter e cultivar. Essa atitude prejudica a democracia e as instituições e merece o nosso mais veemente repúdio.

Como assinar?
1. Visite  o site Petição Pública clicando aqui;
2. Digite "Alexandre Schwartsman" na caixa "Procurar" no canto superior direito;
3. Clica na petição para abri-la. Preencha (nome e e-mail) e clique no botão "Assinar".

Update
O Banco Central deu para trás (veja aqui).

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Crowdsourcing: aplicativos que usam as massas para melhorar as cidades

Ao contrário dos unicórnios, que permanecem incógnitos, carros estacionados em lugares proibidos são visões comuns nos centros urbanos do país. 


Uma iniciativa de uma empresa Canadense promete dificultar a vida desses malandros. A SpotSquad criou um aplicativo que permite ao usuário, com uma simples foto do telefone, reportar o veículo ilegalmente estacionado. O programa ainda está em fase piloto na cidade de Winnipeg, mas os proprietários sonham grande: pretendem adotar um modelo de negócios no qual um percentual das multas é pago para a empresa e então dividido com os usuários de acordo com sua "produtividade". O aplicativo terá características de jogo à la Waze -- com "badges" de ranking dos usuários.


A regulamentação do uso de um aplicativo desses representaria uma brutal descentralização da atividade de "law enforcement".

Outros applicativos que usam as "massas"
A ideia de usar a "sabedoria das massas" para melhorar produtos e serviços já conhecida dos usuários do Wazer -- o aplicativo que ajuda seus usuários a "bater" o tráfego das cidades. A ideia começa a ser usada em outros contextos. Abaixo alguns exemplos:

1. Boston Citizens Connect
Aplicativo da prefeitura de Boston (EUA) que permite aos usuários informarem de "defeitos" nos espaços públicos -- buracos, pichações, luzes quebradas, placas de sinalização quebradas etc. O "status" da ocorrência é atualizado quando a prefeitura "fixa" o problema. É possível ver um mapa das ocorrências abertas.



2. "Crime Watch" e "Maps do Crime"
A polícia do Reino Unido reúne em seu site uma lista de aplicativos para smartphones que permitem aos usuários não apenas interagir diretamente com as forças policiais operando em sua área de residência como uma série de aplicativos que permitem acesso aos dados oficiais de crime na área. Isso mesmo: dados oficiais (exemplo abaixo é da cidade de Surrey).



3. Walkonomics
Aplicativo que, com a ajuda dos usuários, cria um sistema de avaliação (rating) das ruas em várias dimensões: (1) facilidade em cruzar a rua, (2) qualidade do asfalto/calçadas, (3) medo de crime, (4) beleza, (5) diversão, (5) o quão "enladeirada" são as ruas...Já amplamente utilizado em Nova York, Londres e São Francisco.




Enquanto isso em Gotham City...
Por enquanto esses tipos de aplicativos parecem uma realidade distante no Brasil. A julgar pelas últimas notícias, todavia, não seria de todo estranho apps do governo federal para simpatizantes do governo reportarem seus críticos ("mordaçonomics")...


"J´accuse": The preposterous Central Bank


This weekend Veja revealed that the Brazilian Central Bank tried to sue economist Alex Schwartsman -- a former CB diretor -- for his critics against the way monetary policy has been conducted of late.

Are we living in a semi-dictatorship??? Cant we criticize the government anymore???

And why the heck doesnt the CB sue these PSOL guys saying it is favoring the Bankers by keeping rates "so high"? This is a serious accusation about its probity, is it not?

The CB would do us a lot of good if instead it focused on reducing the inflation rate to 4,5%, its supposed target.

Jesus, man, I am going back to Brazil. Fighting PT has become the most important battle of the 21 century.

Chavez nuestro, que estás en el cielo

Não, não é brincadeira. No Congresso do Partido Comunista Unido da Venezuela, Hugo Chavez foi homenageado com uma oração -- uma adaptação do Pai Nosso (veja no vídeo abaixo). Pelo jeito Chavez ascendeu à categoria de Deus.


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Crise na USP II: Transparência

Recomendo a entrevista do professor José Renato de Campos Araújo (EACH), dada à CBN, sobre a situação da USP (veja aqui). José Renato é membro do Conselho Universitário, e revela um problema sério da instituição: falta de transparência. Em particular, não é costume por parte da reitoria mostrar as contas de sua administração (Zago fez isso recentemente, mas ele é exceção), nem mesmo para o conselho. Outro exemplo: as próprias pautas das reuniões do conselho não são abertas a toda a comunidade.

Sim, a universidade tem autonomia administrativa, mas isso não implica que não precise prestar contas a quem a financia: o contribuinte paulista. Daí fica difícil aumentar a fatia do ICMS dada a universidade: a sociedade daria mais dinheiro para a instituição, sem saber direito como esses recursos estão sendo empregados.

A meta de inflação no Brasil mudou


A mentira vai-se tornando verdade...
No corpo da matéria, reconhece-se que a meta é de 4,5% a.a. e, na verdade, o que houve foi um estouro da banda superior da meta. Então, como se explica o título acima? Má-fé?

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

X, help me! Penas maiores para brancos?



Um amigo meu que é defensor público me disse uma coisa ontem que me deixou encafifado.

Ele defende que a pena para brancos seja maior do que a pena para negros (para o mesmo crime). Parece que essa é uma tese de um doutrinador argentino, chamado Raúl Zaffaroni.

À primeira escutada, soa muito estranho, não é? Bem bizarro. Mas sua justificativa, embora não me convenceu, não foi ruim não. Muito pelo contrário.

Ele disse: Bruno, vocês economistas não falam que, na hora de decidir entre praticar ou não um crime, o cara olha para p*q? (p = probabilidade de ser pego; q = pena)

Eu disse: Sim.

Ele disse: Por discriminação estatística, a polícia não para na rua muito mais negros do que brancos?

Eu disse: Sim.

Ele disse: Então, mané. Como o p dos negros é maior do que o p dos brancos, o q dos brancos tem que ser maior do que o q dos negros, para compensar! Caso contrário, ceteris paribus (metido ele...), o custo esperado do crime está desproporcional.

Eu disse: hummmm...

Aí comecei a falar "como que vai implementar esse troço?", "como que vai definir a cor das pessoas?", "não é claro qual é o efeito disso em equilíbrio", "isso não é constitucional", ou seja, fugi um pouco do tópico ou, como diria a presidentA, tergiversei...

Mas to encafifado. Faz sentido? Puts, parece que faz.

X, please, help me! Mas sem tergiversar (vc tem esse mau hábito).

Crise na USP: Regras Prudenciais para o Futuro


O ex-reitor da USP, João Rodas, escreveu uma nota sobre a situação da USP. 

Na nota, o ex-reitor se defende das acusações e basicamente diz que a culpa é de todo mundo. Ele tem um bom ponto: as decisões de torrar o dinheiro -- que pingou mais generosamente do que o normal na conta da USP no período de vacas gordas -- em novas contratações de funcionários/professores, expansão de cursos, abertura de escritórios internacionais e construção de prédios foram decisões colegiadas. Logo, todo mundo que participou e votou nesses "colégios" são responsáveis pela situação atual. Makes sense.

A nota pode ser lida na íntegra aqui. Destaco o trecho abaixo:
O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://sao-paulo.estadao.com.br/noticias/geral,nota-do-ex-reitor-joao-grandino-rodas-imp-,1554462
Ao terminar meu mandato, da citada reserva, cerca de 1 bilhão e meio estava comprometida com pagamentos futuros; enquanto 1 bilhão restava livre. Tudo isso foi feito com a autorização dos órgãos colegiados indicados pelo Estatuto ou Regimento da USP. Tanto que não houve nenhuma observação, nem dos pró-reitores, nem dos diretores de unidade, durante quase 4 anos. Com a diminuição do recolhimento do ICMS foi necessário lançar mão das reservas orçamentárias, como em outras administrações havia sido feito. Qual o problema? Esse dinheiro existe para quê? Para dar lucro aos bancos? Por outro lado, o nível de endividamento das demais universidades estaduais paulistas é semelhante à da USP.

Abaixo o capital financeiro
O trecho acima é revelador -- e confesso que meio desconcertante. Desconcertante porque temos aqui um ex-reitor de uma das principais universidades latino-americanas maldizendo os bancos por lucrarem com o serviço (de wealth  & asset management) que poderiam ter prestado à universidade. Coisa que se espera da juventude do PSTU (será que ele acha que devemos comer em casa para não dar lucro aos restaurantes?)

Mas o trecho é revelador porque dá um excelente insight do que se passava na cabeça desse pessoal. algo mais ou menos assim: "se tem dinheiro, temos mais é que gastá-lo". Fica mais claro agora porque a USP está na situação deficitária atual.

Regras prudenciais de gasto
É verdade que não há incentivos para os administradores das universidades públicas brasileiras serem parcimoniosos na administração do dinheiro em caixa. Mas espera-se que a crise na USP sirva para demonstrar a necessidade de introduzir-se uma espécie de "lei de responsabilidade fiscal" das universidades: regras que (1) imponham limites nos gastos que criam compromissos irredutíveis de gastos no futuro (contratação de pessoal sendo o principal deles) e (2) subjuguem novas decisões de gastos desse tipo à aprovação de um conselho auditor externo à universidade.

Não precisa de muita "tecnologia" para desenhar um esquema de gasto que proteja a universidade de flutuações em sua arrecadação. Um exemplo de um conjunto de regras é o seguinte:
  1. Gasto deve ser programado: a universidade deve fazer uma estimativa da tendência de sua receita (ou seja, do PIB do estado) e definir, com base nisso, o seu padrão de gasto futuro (a linha azul tracejada do gráfico abaixo). 
  2. Folha salarial deve ter teto: a universidade deve fixar um teto para o percentual de sua receita que pode ser gasto com folha de pagamento (ativo e inativa) (ilustrado pela linha cinza tracejada no gráfico abaixo). Algo dentro do intervalo 50-60% parece razoável (Harvard, por exemplo, gastou 48% de suas receitas com folha de pagamento em 2013).
  3. Universidade deve ter poupança: Em períodos de vacas gordas, a universidade deve acumular a receita que excede o gasto programado (área amarela no gráfico abaixo). Essas reservas servirão para cobrir o déficit no período de "vacas magras" (área laranja no gráfico abaixo) entre receita corrente e o gasto programado. Essa poupança deve ser administrada por fundos especializados em "asset managment", à serviço da universidade, e não por professores.


Chega de viver de mesada
Além disso tudo, a universidade deve perseguir outras fontes de receita que não apenas aquela que recebe dos "contribuintes". Já dei sugestões de como e até fiz umas estimativas do valor que poderia ser arrecadado, respectivamente, aqui e aqui

Achar que explorar o potencial comercial do seu espaço, dos seus recursos humanos e dos "produtos" que cria -- como já faz as melhores universidades do mundo -- vai comprometer a autonomia da universidade, ou transformar a USP numa empresa de sabão -- como parece ser o receio do pessoal do sindicato --, é uma tremenda besteira.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dilma, Marina e a política industrial

Frase de Dilma Rousseff:
Fiquei muito preocupada com o programa (de governo) da candidata Marina, porque ela reduz a pó a política industrial.
Obrigado, presidenta. Você me convenceu a votar na Marina.

Alckmin, o homem do povo?


O PT tende a ser mais forte entre os pobres e pouco escolarizados, e não o PSDB. Mas a última pesquisa do Ibope para o governo do Estado de São Paulo mostra um fato peculiar: Alckmin lidera (apesar de ter perdido terreno), e essa liderança é particularmente larga entre os eleitores com menos instrução:
No eleitorado mais escolarizado, com ensino superior, a vantagem de Alckmin sobre Skaf é de apenas 10 pontos: 44% a 34%. Entre os que estudaram até a 4.ª série do ensino fundamental, essa vantagem chega a 37 pontos: 51% a 14%. 
Será que isso tem a ver com informação? Como os demais candidatos são pouco conhecidos, e os menos escolarizados tendem a ser também menos informados, Alckmin levaria vantagem. Imagino que seja difícil capturar a atenção do eleitor, especialmente com uma eleição presidencial acontecendo ao mesmo tempo.

(Isso levanta uma hipótese interessante: será que incumbentes têm vantagem desproporcional em eleições para governador, quando elas ocorrem junto com eleições presidenciais?)

Outra possibilidade é que a amostra é pequena quando quebramos por faixas educacionais. Os erros padrões devem ser gigantescos para a subamostra dos menos escolarizados. De qualquer forma, a diferença a favor de Alckmin é também enorme para esse grupo.

Fonte: estadao.com.br